Às 15h desta sexta-feira (17) começa na Câmara de Curitiba uma audiência pública contra a legalização da maconha. A ideia de chamar a reunião foi do vereador e pastor evangélico Valdemir Soares (PRB).A audiência tem ares de palestra educativa. Em nota oficial, Soares diz que “pretende conscientizar sobre os problemas gerados pelo consumo e comércio ilegal de drogas, além de defender a proibição de eventos que façam apologia ao uso de entorpecentes”.
Nesse último caso, o da “proibição de eventos que façam apologia”, é uma luta perdida. Na última quarta-feira (15), o Supremo Tribunal Federal decidiu que a ‘Marcha da maconha’ não pode ser proibida em nenhum lugar do país. Agora, a questão fica em torno de qual o limite dessas manifestações, especialmente se elas podem evoluir para uma luta a favor de outras coisas proibidas.
Na audiência, além do vereador outros três convidados devem debater contra a maconha: o secretário municipal Antidrogas, Hamilton José Klein, o deputado federal Fernando Francischini (eleito sob a campanha da “Tolerância zero”) e a psicóloga Marisa Lobo.
Números previstos
Em entrevista ao G1, o vereador Valdemir Soares (PRB) diz que, em todo o país, “teríamos entre 70% e 80% da população contra a legalização da maconha, se nós fossemos fazer um referendo hoje. Já em Curitiba, os números seriam ainda maiores”. Questionado quanto às pesquisas que basearam as informações, ele diz que foram “conversas com as pessoas”. Acompanhe os melhores trechos da conversa.
Vereador, o senhor avaliou os argumentos dos favoráveis à legalização? Poderia citar pelo menos um deles que merece ser discutido?
Sim, avaliei. Um dos argumentos é a questão terapêutica, ou a droga ser usada como remédio. Mas nós temos outros remédios, até mesmo mais fortes que a maconha. Então seria desnecessário [fazer uso medicinal da maconha]. E também tem a questão do tráfico, que dizem que vai acabar. Mas não vai acabar. (...) O debate sempre vai ser válido. Sou favorável a um referendo.
Politicamente. O país está pronto para lidar com o assunto da maconha?
O país está pronto para debater. [Nós, evangélicos] somos extremamente contra [a maconha], é claro, mas somos a favor do debate. Quem diz que o país não está pronto é porque sabe que a maioria é contra.
Especialistas, como o psicotoxicologista Menir Zeiter, dizem que o álcool e o cigarro são portas de entrada para outras drogas e não a maconha.
Eu concordo que em alguns casos a porta de entrada para as drogas é a nicotina e o álcool. Hoje, a gente é vítima de uma organização de empresas que mandam e desmandam no nosso país. [Essas empresas] estão ligadas a políticos, empresários e meios de comunicação. (...) Há quem ache que a nicotina e o álcool sejam produtos normais, mas somos também contrários. Na experiência que vemos, a maioria dos usuários de crack teriam começado na maconha. (...) Mas o álcool é uma das drogas que mais mata.
Então por que lutar contra a legalização da maconha e não a favor da criminalização do álcool?
A maconha cria crise motivacional e depressão. (...) E não é verdade que não causaria violência doméstica, por exemplo. Sabemos de casos em que a maconha trouxe desequilíbrios familiares. Pessoas que usam maconha e ficam agressivas.
O senhor já fumou maconha ou já conviveu com pessoas que fumam?
Nunca fumei, mas conheço milhares de pessoas que fumaram. Pessoas que caíram na heroína, crack, LSD. Pessoas que querem ajuda.
Os debates sobre a maconha parecem cada vez mais vazios, um tipo de disputa ponto-a-ponto, a cada nova pesquisa. Não acha que pouco se fala sobre a própria humanidade, sobre a crise de sentido?
Esse vazio o ser humano teria que preencher através de uma relação com Deus, com a família, com filhos e a esposa. Preencher com Deus, Bíblia, filhos. (...) Buscar em outras coisas que não são oferecidas através da mídia, dos amigos. O ser humano, hoje, busca nas drogas preencher um vazio que é espiritual.
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